SENTADO, PENSAVA EM UMA RESPOSTA, a testa doía. De longe ouvia a voz dos colegas. Por que essa bendita campainha não toca agora para o recreio, assim, de repente, salvando-o? Sentia o desconforto crescendo dentro dele a cada resposta. Cada criança sabia tão bem, era tão já definida: Médico, sôra, disse um, Atriz, sôra, disse outra, Engenheiro, sôra, Enfermeira, sôra, Jogador de futebol… e assim ia. De cadeira a cadeira a pressão crescia, se avolumava cada vez mais. Um enorme ponto de interrogação correndo em sua direção. E ele ainda sem resposta: O que é que você vai ser quando for grande? Como dizer que não queria ser grande, que sonhava em ser anão para não precisar crescer? Que não queria ser, pois já era o que era, e o que era era bom assim como era? Ouviu a voz da professora repetindo seu nome: Ivo? Ivo! Espera, não diga, aposto que quer ser pintor… Ou não, melhor, vai ser escritor, não é? E agora? Não, disse ele num repente, vou ser físico nuclear, completou lembrando da profissão que lera num livro. Não tinha entendido bem o sentido, mas soava realmente fantástica… Viu o sorriso meio trêmulo, inseguro, no canto da boca da professora, o momento de dúvida seguido pelo silêncio que confirmava seu alívio: Ela também não sabia!

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