MANFREDO MÜLLER apoiou o queixo nas mãos cruzadas sobre o cabo da enxada. Ainda olhava boquiaberto Seu José do outro lado da cerca. Que tapados, pensou, balançando a cabeça. Se bem que não tinha logo acreditado quando ouviu que lá na Alemanha as pessoas comiam abacate com salada. Quer dizer… Com sal e com vinagre e com azeite? — E pimenta-do-reino, acrescentou o vizinho apoiando-se na cerca de madeira. E Seu José Weber – que lá esteve trabalhando por aquelas bandas distantes – repetiu que preparavam a salada assim mesmo, com pedacinhos de abacate, às vezes até já meio cinzas de tão velhos, pois não tinham fruta fresca lá. E não tem pé de abacate?! Não, nenhum pézinho! E ele sabia ainda mais: que os alemães punham – imagine –punham até gomos de bergamota na salada! Ah não, exclamou Manfredo com olhos arregalados, mas não eram tão finos esses europeus? E como isso? Mas o espanto logo se esvaiu, e sentiu então pena da ignorância daquela gente civilizada. Mas o que esperar de quem não conhecia fruta fresca? Nem pé de bergamota não tinham… coçou pensativo o queixo. Em todo caso não pôde conter um certo nojo ao imaginar aquela mistura que nenhum cristão em sua sã consciência iria comer. Abacate com salada! Exclamou. E com bergamota, relembrou Seu José Weber assentindo com a cabeça. E então Manfredo não se conteve, virou-se de repente para José, os olhos faiscando a pergunta incrédula. O vizinho viajado vacilou, mas logo se desvencilhou e disse de queixo erguido: E comi. Comi, sim senhor. Comi com essa boca que a terra há de comer!
1 comentário em O Abacate
O Abacate

Uma resposta para “O Abacate”.
-
Adorei, mas também incrédula q comem bergamota como salada 🤭
CurtirCurtir