Um Casal anda pela Floresta de Oden

VEJA SÓ A IMAGEM: um casal anda pela floresta de Oden no sul da Alemanha. Eles nas penumbras dos troncos e lá em cima um rasgo enorme de azul. Costuma-se passear muito nesta floresta que é imensa, ricamente arborizada e cheia de elevações sinuosas. Além de ser recortada por um emaranhado de largos caminhos, bem sinalizados e meticulosamente representados no google maps. Ali, ninguém se perde. Nunca. Só querendo. Qualquer cidadão pode passear lá, não se paga entrada, não há cerca, nem portão. Eu próprio costumo deixar minhas pegadas por aquelas bandas, seja outono, seja primavera. Mas não é de mim que fui incitado a falar. Desculpe. Foi a imagem, que aliás, é uma imagem de outono. Pois bem, se vê um casal avançar de costas um longo caminho ladeado de árvores altas. Lá em cima, azul demais. Andam de mãos dadas, mas bem protegidas por luvas, já que faz frio. De repente o homem pára, enquanto a mulher ainda dá dois pequenos passos, e estanca, antes de se virar admirada. Ele, o homem, fita intensamente os troncos escuros. Que foi? diz ela sorridente. Acho, o sorriso era apaixonado. Bem, é que fiquei só imaginando o valor dessa árvore. E? pergunta ela encantada. Deve ser imenso! Imenso! repete a mulher. Quantas tábuas! Tábuas? É, tábuas, ricas vigas, estancas e sabe lá quantas centenas de palitinhos de dentes! Ela ergue o olhar para o tronco. Pensa: Madeira? O sorriso congelado no rosto. E não sei se por causa da brisa gelada, mas sente um calafrio. Infelizmente a curta história do casal termina por aqui mesmo. Mas não a das árvores. Pois, enquanto a maiorias delas, conscientes de sua vida mais profunda, apenas contemplam impávidas o casal, lançando no ar suas folhas amareladas, duas outras, mais jovens, uma castanheira e um pinheiro que se encontravam cada uma ao lado oposto do caminho, comentam de uma para a outra sobre a cabeça do casal:

— A estanca e os palitinhos são você, viu?

— Por que eu? Você nem fruto dá. Eu estou mais para tábua e viga!

E se riram dessa feita que nenhuma dava fruto mesmo naquela floresta. Pronto, acabou a história. Agora, um outro que não aparece na foto, já que está fora dela, sente um tremor ao ver os galhos se desfolhando, anunciando, pra alguns, um inverno triste e rigoroso. E solitário, se vê.

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