TRÊS FOLHAS SECAS, retorcidas e muito cinzas parecem insistir em se manter no galho fino. Há muito já morreram, e nada mais produzem, nem nada mais recebem, e no entanto, continuam ali, trêmulas sob o vento gélido, fustigadas por flocos e flocos de neve. Por algum estranho lapso esqueceram de cair, de cair como todas as outras cumprindo seu destino de alimentar o solo úmido. Não envolvia então uma vaga promessa aquela queda? Um breve anúncio de retorno? Mas se assim foi, há muito deixou de ser. Pois que tal morte a nada serviu, nem ao vento, nem à terra, nem aos vermes e nem aos fungos, muito menos às raízes da grande mãe. Ficaram três testemunhas tristes do que não mais eram, do que não vieram a ser. Feito aquelas múmias, em Pompeia, que esculpem no ar gestos ocos ao desafiar a própria morte. E mesmo assim, me parece, que ao vento que as açoita, ou por isso, as três sussurram em voz rouca, impertinente: Não, não caio. Não, não morro. Não, não vou… 


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