O Esconderijo

Você entrou no canto escuro onde moro. Mas você teve sorte, hoje, os anjos estão voando baixo, você pode até tocá-los.

Breve história no tempo 

No início de nossa história o sol já havia abandonado a face da terra. Se retirado como sempre do palco. O dia tinha sido ensolarado, os pássaros cantaram animados, pequenas nuvens brancas pairaram imóveis no céu. Mas agora, só sombras, silêncio, grilos. Sei que é triste iniciar uma história assim, com a morte. Mas é que a morte estava no início desta história ao contrário. Por isso, agora, o fim.

Ai, Jeísa!

Aglutinado ao leito de morte o corpo da velha dançarina murcha com o avanço demoníaco do câncer. Suas palavras finais, no entanto, serão: a eternidade me consome.

Criação

No início havia a terra e o céu. Nos céus, entre o azul, nuvens, tempestades, ventos. Pássaros  de todas as cores e tamanhos esvoaçavam sobre os mares plenos de peixes que balançavam pacíficos lambendo as margens das terras há muito cobertas por todas espécies de seres, grandes e pequenos, de oito, de quatro, de duas pernas. Mas faltavam ainda as criaturas principais, o ápice do todo,  aqueles que dariam sentido a tudo mais, ao que havia e ao que sofria: os deuses.

O Violino

Sobre as águas sujas e escuras da enchente flutuam pedaços podres de tábuas, gravetos, folhas, brinquedos de crianças, cadernos abertos e, como um pequeno caixão escuro contendo o corpo infantil de nossas antigas alegrias, um violino.

Outono

O sol declina oblíquo ressaltando os fios dourados suavemente tecidos e espalhados com delicadeza feito guirlandas diáfanas sobre as gramas altas do campo. 

Islândia reinventada

Formas cristalinas de gelo erguem-se imponentes das águas verdes, como magníficas esculturas. As mais variadas formações de gelos transparentes, que atravessados pelos raios de sol assemelham-se a preciosos diamantes, imensas jóias das cores dos rubis, ametistas, ômegas, polidas e esculpidas requintadamente pela mão glacial do vento. Alguns se assemelham a estilhaços de vidro que emergindo das profundezas escuras cortam a pele fina e pacífica do mar, lançando seus braços pontiagudos e transparentes desesperadamente de encontro ao ar frio da superfície.

Uma Biografia

Não tem lembrança alguma, tudo nele é ainda semi-selvagem. É como um instrumento esquecido há anos num porão empoeirado, jamais tocado, a não ser pela suavíssima brisa que faz às vezes as cordas vibrarem lançando ao ar escuro sons somente perceptíveis pelas bactérias. Muito pouco para uma biografia


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